segunda-feira, 30 de novembro de 2009


tinha um caderno no jornal que quase todos os fotógrafos detestavam fazer: seu bairro. o argumento da maioria é que este caderno não tem apelo de foto de capa, que só tem pauta calhau, como fotografar buraco na rua, reclamação de morador que a prefeitura não poda as árvores, essas coisas que todo jornal tem que dar, mas ninguém quer fazer. a rejeição de todos por este caderno era tão grande, que ele não existe mais. virou apenas uma página diária dentro do jornal. claro que o motivo de sua morte não foi este, mas como eu acredito em olho gordo...

nunca tive problema em fotografar pautas consideradas “pequenas”. aliás, até curto fazer. e como ainda sou novo no valeparaibano, normalmente essas pautas caem no meu colo.
teve um dia que a repórter do seu bairro, ana cláudia, chegou na fotografia para saber se tinha alguém disponível para sair com ela. percebi uma certa movimentação e logo em seguida um vazio no ambiente. quem iria com ela? eu.

moradores do bairro dom pedro estavam reclamando de freqüentes assaltos e ameaças a quem passasse na rua,
especialmente, a noite. só que além disso tudo, os assaltantes fugiam pulando o muro de uma casa abandonada e se escondiam no meio da obra que foi deixada pela metade. o que era apenas um esconderijo dos bandidos, acabou se tornando mais um ponto de tráfico na região. todos os moradores sabiam do esquema, mas não podiam fazer nada. tinham medo. acho que até chamaram a policia, mas nada foi resolvido.


o que
me mandaram fazer foi fotografar alguém entrando ou saindo desta casa. Era só fazer o flagrante, e ir embora para fazer outra pauta. para minha tranquilidade, a repórter já tinha agendado deu subir na casa vizinha e fotografar com uma certa segurança. fiquei de butuca esperando um tempinho até que alguém aparecesse. quando vi o cara pulando o muro, fotografei como se minha câmera fizesse 50 fotos por segundo. clickclickclickclickclickclickclick. até que deu certo, mas não consegui fazer muito mais porque o meu campo de visão não era dos melhores. era apenas uma pequena fresta da janela.



teve até um morador que me abraçou quando mostrei para ele as fotos no visor da câmera. “agora a prefeitura vai tomar uma atitude, obrigado pela ajuda!”. dei um sorriso sem graça e voltei para o jornal. no dia seguinte, soube que publicaram apenas uma foto geral do local, nada de flagrante.

talvez se não fosse caderno
bairro, teríamos outro final para as fotos.



domingo, 29 de novembro de 2009






este blog já deveria ter sido feito há muito tempo, mas só agora consegui um tempinho livre para começa-lo. muitos já devem saber, mas para os poucos que não sabem, estou trabalhado no jornal valeparaibano de são josé dos campos. entrei para cobrir as férias do kathião, e já se vão quase oito meses na capital do vale.

como nunca tinha feito jornal diário, o editor de fotografia e amigo de longa data, pedro ivo, achou que seria bom para mim, já começar fotografando favela. “tratamento de choque, fío”. fui com o repórter xandú fazer a pauta, mas quando chegamos lá, não tinha nada. literalmente nada. era só a primeira de inúmeras pautas que iria fazer que cairia no meio do caminho.

por sorte, o repórter de esportes marquinhos estava junto no carro pegando uma carona para cobrir o treino de vôlei da 4ª etapa do circuito banco do brasil de vôlei de praia que iria começar no dia seguinte. como já estava no carro, fui com ele.

o local escolhido para o evento, foi o estacionamento do shopping colinas, um dos principais centros de compra da cidade. fiz algumas fotos, mas o repórter queria uma foto com um personagem específico, o único jogador nativo da cidade. como nos atrasamos para chegar lá, o rapaz já tinha ido embora.

primeira pauta, a gente nunca esquece.